05/05/2003

Do almoço.

Acordei tarde e ainda sonhava com o maravilhoso bife/arroz/salada de rúcula do Bar do Marcelino. Estômago nas costas e língua encoberta pelo maravilhoso tempero imaginário da melhor comida caseira da região. Não tive tempo de comer no domingo, de modo que este sonho foi tudo o que coloquei na boca, desde o jantar de anteontem.

É. Fome.

O estômago subiu pelas costas, me agarrou pelos cabelos e me arrastou rumo à cozinha, dizendo entre os dentes: "vai comeeeeeer, aaaanda... &¨@$%*§...!".

Assutada, percebi que ele não estava de brincadeira. Farejei o ar no trajeto - pelo menos vinha um cheiro de comida. "Ótimo", pensei. "Finalmente, bife/arroz/salada de rúcula, mesmo sem o Marcelino." Minhas glândulas salivares choravam de emoção.

Abri a porta com um chute cinematográfico. Desespero. Precisava comer. Comer muito bife/arroz/salada de rúcula. Mas, pelo olhar maquiavélico da senhora dona minha mãe, pressenti que estava prestes a dar com os burros n'água.

- Bife? Arroz? Salada de rúcula? - chamei, afoita.

- HA! HAHA! HAHAHAHAHA! - foi a única resposta que ouvi, e veio da fazedeira-mor de comidas e quitutes, a detentora da chave de acesso ao misterioso mundo da cozinha, a senhora dona minha mãe - ENGROSSADO DE FRANGO! Hahahahahahahaaaar...

- ?!? (Pasma. Mãos espalmadas. Queixo caído. Pálida. Glândulas salivares todas amuntuadas na janela da boca, tentando ver se tinha difunto nalguma sarjeta (as outras, distraídas, gritando "BIFE/ARROZ/SALADA DA RÚCULAAA!... CADÊ VOCÊÊÊ!... EU VIM AQUI SÓ-PRA-TI-VÊÊÊ!..."). Estômago pisoteando minha cabeça, dando coques, beslicões, tapas, dizendo entre os dentes "faça alguma coooisaaaaaa...!!!")

- Come e não reclama.

Depois que meu irmão mata-baratas saiu de casa, é sempre assim: fritura, comida requentada e restos de bolacha dura. Mas engrossado de frango?! É demais. Primeiro, que, de engrossado, não tinha nada. Tudo o que eu enchergava era uma água marronzinha com uns fiapos de frango, raquíticos, boiando feito afogados. Segundo, que meu estômago queria se estufar com alguma coisa, e aquilo passava longe do sonho alimentar do pobre.

Cabisbaixa, voltei ao quarto. Calcei os sapatinhos de rubi, bati os pés 3 vezes: "Não há lugar como o Bar do Marcelino. Não há lugar como o Bar do Marcelino. Não há lugar como o Bar do Marcelino".
Continuei no mesmo lugar.
Meu estômago me chutou a orelha.

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