16/05/2003

Ouvindo agora: Tom Jobim.
Sabiá (inglês)
Olha Maria (instrumental)


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Esse baixel nas praias derrotado
Foi nas ondas Narciso presumido;
Esse farol nos céus escurecido
Foi do monte libré, gala do prado.

Esse nácar em cinzas desatado
Foi vistoso pavão de Abril florido;
Esse Estio em Vesúvios encendido
Foi Zéfiro suave, em doce agrado.

Se a nau, o Sol, a rosa, a Primavera
Estrago, eclipse, cinza, ardor cruel
Sentem nos auges de um alento vago,

Olha, cego mortal, e considera
Que és rosa, Primavera, Sol, baixel,
Para ser cinza, eclipse, incêndio, estrago.

(Francisco de Vasconcelos (1665-1723), Fenix Renascida III)



(St. Michel, Eclipse)

Contribuição poética:

Dia após dia rasga o céu negro cometa
Meu coração batuca ao sol d'anti-matéria
Lusco no fusco de africânica Sibéria
Festa que escorre em sumo as frestas do planeta.

Do núcleo ardente à longa calda ensolarada
Noite após noite, meio-dia, a céu aberto
Quero-te a raça, mon amour, tê-la por perto
Tinge-me duma sintilante Madrugada.

Que tua cor me corresponda à flor da pele
Se tanto enfim me conceder o engenho e arte
Roubo-te o coração, deusa da minha rua.

Presumo apenas o melhor, madamoisele
Se não puder preta, por ti, chegar a Marte
Me refugio no lado escuro da Lua.

(Carlos Saraiva, sem título)

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